"O uso do
automóvel para deslocamentos nas grandes cidades é uma burrada imune aos
alertas, como o cigarro, que resistiu até o fim do século 20 às evidências de
que causa câncer. A propaganda de carros continua oferecendo virilidade e glamour,
enquanto entrega congestionamento, estresse, doenças e aquecimento global.
"É por isso mesmo
surpreendente ver que segue constante o percentual das pessoas que dizem reduzir
de alguma forma o uso do carro. Desde a pioneira pesquisa feita pelo sociólogo Antônio
Lavareda para o guia “Como Viver em São Paulo Sem Carro” (2012) até o
levantamento divulgado pelo Ibope na semana passada, os números estão
constantes em torno de 50%. Ou seja: metade dos moradores da maior cidade do
Brasil buscam jeitos de usar menos o automóvel.
"Há muitas razões
para isso. Se uma pessoa pensar direito não usará carro próprio para se
locomover. Em primeiro lugar, tem a irracionalidade do próprio hardware: ele gasta
cerca de 95% do combustível para levar a si mesmo. Faça a conta: um veículo
médio pesa cerca de 1,5 mil quilos. E o motorista, 75kg (5%). E os carros levam
geralmente só uma pessoa. Quer coisa mais irracional?
"A loucura é
ainda maior se pensarmos no uso que fazemos do automóvel. Os usuários em São
Paulo andam em média 20km por dia, em viagens de duas horas (os números não são
muito diferentes em outras grandes cidades). As demais 22 horas do dia, o carro
dorme (92% do tempo). Calcule se o preço de compra fosse investido: você admitiria
que seu banco pagasse juros apenas por duas horas do dia? É por isso que uma
empresa financeira norte-americana, Morgan Stanley, chamou o carro de “o ativo
mais mal utilizado do planeta”.
Leia a íntegra deste texto no artigo Carro, o pior investimento do mundo publicado na coluna de Leão Serva na Folha de S.Paulo.
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