por LEÃO SERVA
Esta terça, 22/9, é o dia Mundial Sem Carro. Por isso a
semana comemora a mobilidade alternativa: em todo o planeta, pessoas estão
tentando mostrar como tem mais felicidade quem não usa carro automóvel
particular. Talvez a frase mais representativa desse movimento seja aquela em
que o arquiteto Jaime Lerner, um dos
urbanistas mais respeitados do planeta, disse em um evento da Folha que o carro é o cigarro do século 21.
O interessante é que as campanhas de informação pública
conseguiram reduzir o consumo de cigarros no Brasil, depois que o governo
federal se convenceu de que não havia mais dúvidas de que o tabaco causa vários
tipos de câncer e problemas cardíacos. De 1995 até hoje, os brasileiros
fumantes caíram de 35% da população para apenas 15%. É uma queda de 60% em 20
anos.
O problema é que o governo brasileiro segue incentivando o
câncer e o infarto causados pelo carro, “engraxando o sapato da indústria
automobilística”, como diz o especialista em doenças causadas pelo trânsito
Paulo Saldiva (USP). Foram decisões federais de fomento a doenças letais
causadas pelo automóvel: incentivos fiscais para instalação de novas fábricas;
financiamento público para a compra de carros, que provocaram uma epidemia de
congestionamentos em todas as metrópoles do país nos últimos dez anos; e uma
política de congelamento de preços de combustíveis que destruiu a maior empresa
brasileira (Petrobrás) e aumentou o consumo de combustíveis fósseis.
Câncer, hipertensão e infarto é o principal resultado que a
política federal de incentivo ao automóvel dá para o Brasil. Com resultados
impressionantes que ficam para a saúde pública, em médio e longo prazo.
Você que anda pouco ou nada de automóvel devia contar ao seu
amigo carro-dependente como a vida é melhor sem usar essa droga insustentável.
E você que depende de carro, larga esse vício!
Quer razões para tomar a decisão?
Uma questão econômica: aproveite a crise para fazer um corte
radical de despesas. Em vez de gastar, faça seu dinheiro render os maiores juros
do planeta. Quando você compra um carro de, digamos, 30 mil reais, terá que
licenciar e emplacar, fazer um seguro, pagar o IPVA. Cada dia que usar o automóvel,
vai ter que gastar com estacionamento e gasolina. Em média, o paulistano que
usa carro roda por dia apenas 20km. Somando tudo e dividindo pelos quilômetros
rodados, segundo o estudo do professor Samy Dana é mais econômico andar de táxi, com a vantagem do conforto de poder
ler, falar ao celular e ainda ter um lucrinho. Se andar de transporte público,
a conta então é irrespondível.
O estudioso da FGV publica planilhas interativas para que
você possa colocar seus próprios números. Você verá que quanto maior o preço de
seu carro, mais quilômetros diários pode andar de táxi ou Uber, preservando o
patrimônio.
Uma razão de bem estar: quando você usa carro, fica
sedentário, seu gasto calórico é baixo. Quando você anda a pé, de bicicleta ou
mesmo de transporte público, seu corpo se movimenta, gasta energia, queima
gorduras. Você sente mais bem estar.
Uma razão médica: se você fumava até a virada do século e
parou, aproveite para largar outra droga também. Ah, você nunca fumou? Então é
uma pessoa preocupada com a saúde? Então, não pode depender da maior causa de
infarto depois da cocaína. Em termos mundiais, o carro é o principal causador
de doenças cardíacas, simplesmente porque tem mais gente pegando
congestionamento do que cheirando cocaína.
“Vai, Leão, não exagera”. Só que não: recentemente, o professor
Saldiva passou a estudar os efeitos do congestionamento independentes da poluição.
Imagine que todos os carros fossem elétricos, não poluentes, portanto. Os
problemas cardíacos decorrentes do congestionamento seriam iguais. O que mais
dá infarto é ficar preso dentro de uma jaula, impotente, quando seu corpo
queria estar correndo e se movimentando rumo ao trabalho ou ao descanso.
Entenda bem isso: a balela do carro híbrido ou elétrico só
serve para dar sobrevida à droga do século 20 no século 21; é um engodo
semelhante ao que a indústria do tabaco tentou nos anos 1970/80, quando passou
a vender “cigarros light”. Menos nicotina e câncer igual, como se provou
depois. A poluição é um problema grave, sim, mas o congestionamento é tão grave
quanto, que 7 milhões de carros (a frota paulistana) elétricos não vão
resolver.
Uma razão estética: quer coisa mais feia do que uma pessoa
encalacrada dentro de um ridículo carro, em um congestionamento de milhares de
outros carros, apertando com violência a buzina, talvez usando como virou regra,
um vidro escuro? Agora: andando de transporte público você vê coisas
interessantes na cidade, conhece gente nova, pode ler enquanto se locomove.
Por fim, uma razão de urgência: há inúmeros roteiros na
cidade de São Paulo, no Rio e em todas as grandes cidades do país que é mais
rápido fazer de transporte público do que de carro individual. Ponha no Google
Maps o destino e veja quantas vezes o deslocamento é mais rápido a pé, de
bicicleta ou de Uber (o sistema não inclui cálculo para táxi). Some as
vantagens acima (economia, saúde, bem estar) e você, uma pessoa inteligente,
vai se convencer.
Largue essa droga, comece amanhã, Dia Mundial Sem Carro.
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