por LEÃO SERVA
A Paulista foi palco neste domingo de um grande espetáculo
de cidadania e congraçamento. Não é Natal, nem Ano Bom, não tinha comício ou
protesto, Marcha com Deus ou Parada LGBT: foi só um domingo para amar o próximo
e fruir a cidade. Paulistanos da Cantareira a Parelheiros, de Cidade Tiradentes
a Perus e do Centro, ricos e pobres, “coxinhas” e governistas. A todos, o
fechamento da avenida proporcionou uma festa.
E o trânsito? Apenas o normal para um domingo de festa.
Repetiu-se o que tinha acontecido oito dias antes no fechamento do Minhocão
sábado à tarde: nada! O discurso carro-cêntrico
dizia que a cidade viraria um caos com as artérias fechadas. Ao final, a
montanha pariu uma minhoquinha. Avisados, os motoristas buscaram alternativas e
o trânsito ficou como sempre.
Em seus deslocamentos, as pessoas fazem comparações
econômicas de vantagens e desvantagens entre as opções disponíveis: se custa
mais ir de carro, vão de ônibus; se custar a mesma coisa, preferem carro que é
mais confortável; se tudo ficar caro, escolhem outro destino. Para quem usa o
automóvel, a escolha dos caminhos é decidida por cálculos em que o tempo é a
unidade de valor: se a Rebouças congestiona, pega-se a Bela Cintra ou a Nove de
Julho. Se todas ficarem lentas, dá-se outro jeito (ônibus ou muda o destino).
Chama-se “princípio de Wardrop” a conta que leva todos os
caminhos para um certo destino se equilibrarem quanto à demanda de carros e
consequentemente tempo de deslocamento. É essa a lógica que norteia o uso do
aplicativo Waze: de tempos em tempos, as diferentes rotas para os grandes
destinos tendem a se equalizar.
Com a abertura da Linha 4, Amarela, do metrô, a Paulista se
tornou uma opção de lazer aos moradores desde as pontas de todas as outras
linhas de trilhos urbanos. Por isso ela lota de gente passeando todos os
domingos. Estacionar o carro é difícil e caro. As pessoas reservam um tempo e
um custo que se dispõem a gastar para obter a satisfação de um passeio na
região mais charmosa da cidade. Se ir de carro é penoso ou proibido, irão de
metrô.
Não estamos inventando nada, nem mesmo as polêmicas: também
em Nova York, os carro-dependentes resistiram quando a administração do conservador
Michael Bloomberg fechou a Times Square para os carros (lá, 7 dias por semana).
Mas em três semanas o trânsito estava como sempre esteve. E a cidade ganhou um
bonito calçadão com mesas e cadeiras nas ruas. Casos semelhantes aconteceram em
Paris, Londres, Estocolmo etc.
Aqui vamos começar aos sábados, no Minhocão, e domingos, na
Paulista, a aumentar o espaço para os humanos e reduzir o das máquinas. Logo vamos falar de outros dias e outras
vias.
HÁ UMA PEDRA NA CICLOVIA
Sob o ponto de vista institucional, a ciclovia da av.
Paulista tem buracos que poderão dar trabalho ao prefeito Haddad no ano de sua
reeleição, quando forem julgadas as contas deste ano: a Prefeitura não submeteu
corretamente ao Tribunal de Contas do Município (TCM) documentos sobre gastos
na implantação da via.
Pelo menos é o que entendeu o conselheiro Edson Simões, que
na quinta-feira enviou à Secretaria Municipal de Transportes, responsável pela
realização, um http://www.tcm.sp.gov.br/painelnoticias/principal/2015/2127-15.pdf
ofício com tom bastante duro, listando os documentos que deveriam ter sido
enviados e não foram: “Está prevista inauguração das obras no
próximo dia 28 de junho de 2015. Contudo, estranhamente este Tribunal ainda não
recebeu nenhuma medição”, diz um trecho com as letras destacadas em tom mais
forte.
Ontem, enquanto os ciclistas esperavam a chegada do prefeito
na Paulista, o site do TCM tinha na sua página principal uma http://www.tcm.sp.gov.br/painelnoticias/principal/2015/59_15Ciclovia.html chamada para o caso.
O despacho deu 24 horas para o secretário Jilmar Tatto
enviar a papelada documentos. Sexta-feira, o TCM opera em ritmo lento, só
saberemos se a Prefeitura cumpriu o prazo ao longo da semana que vem.
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